Mas pelo estado em que se encontrava o 845, não se podia tratar de um hóspede discreto e sigiloso de todo: roupa espalhada pelo chão e pela cama mal desfeita, a poltrona e a mesa pequena fora do seu sítio, todos os objectos de higiene no chão da casa de banho, o que teria acontecido?
L., empregada desde havia pouco tempo naquele que era o melhor hotel da cidade (ou isso diziam os chefes), enquanto levava a cabo as suas tarefas, ia imaginando que tipo de guerra tinha passado pelo quarto 845.
A hóspede, agora L. sabia que se tratava de uma mulher, tinha deixado no chão o seguinte escrito:
Se, naquela noite d’Estio
te tivesse dito quem realmente sou
não terias acreditado.
Analiso de memória
O teu sólido personagem
E aterrorizo-me sozinha
... volto a descobrir...
a raiva das tuas mãos
e o veneno da tua língua.
Se, naquela noite d’Estio
Te tivesse dito que só desejava um corpo
Não terias acreditado.
E se não analisasse de memória
O teu personagem
Descobriria a sublime ternura
Das tuas mãos
E a fantasia dos impulsos da tua língua.
L. não conseguiu deixar de pensar naquele escrito que, num papel meio amachucado, a tinha deixado turvada e perturbada. Será que a guerra daquela noite tinha alguma relação com o documento encontrado? Mas realmente, o que quereriam dizer aquelas palavras?
Terminou o trabalho do 845 e passou ao quarto seguinte sem conseguir apagar a imagem do estado do 845 e do escrito encontrado. Secretamente desejou que a hóspede não fosse embora.