miércoles

Quarta-feira de um dia de Agosto, 10h30 da manhã, quarto 845

L. não se tinha conseguido libertar daquilo que havia visto no dia anterior no 845: o estado do quarto, as palavras encontradas, as suas emoções... Voltou à mesma hora, exactamente às 10h30, com a esperança de encontrar dentro aquela mulher. L. queria saber como era o seu rosto e como se movia, no fundo tudo o que conseguisse no pouco espaço de tempo que iria ter caso a hóspede estivesse no quarto. Bateu à porta, como de costume e, não obteve resposta. Meteu na fechadura a chave que abria todas as portas e aí estava o 845, limpo e arrumado. Após a súbita desilusão, L. iniciou as suas tarefas que, naquela quarta-feira e no 845, eram poucas. Mudou lençóis e toalhas, repôs o shampoo, gel e afins e começava a esvaziar os caixotinhos do lixo onde, novamente encontrou aquela letra que lhe era algo familiar. L. não perdeu tempo em desfazer a bola que alguém tinha feito daquela folha e eis o que encontrou:

Pasolini

Olhando para o céu a preto e branco
Soube que era Ele o que havia de chegar
E que não teria quer esperar por nenhum Outro

Vendo o mundo ao contrário
Percebi o ensurdecimento dos ouvidos
E de outras coisas que se sabem

Com uma imagem fumada
Descobri o que eram as mortais angústias
E pedi que me acompanhassem 3 homens

...Mas nunca blasfemei!!!

Agora sim estava realmente perdida, se do escrito anterior podia tentar entender alguma coisa, agora resultava-lhe completamente impossível.
Como lhe chamou a atenção a penúltima estrofe, tentou relacioná-la com a noite anterior que tinha dado origem ao caos que L. tinha encontrado. Hummmm... mas o nexo parecia-lhe algo forçado.

No hay comentarios: